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Um Pássaro é mais do que a sua Jaula

Luanda, 1977. Escondido numa casa, sozinho, afastado da família, e perseguido pela polícia política Angolana, Adolfo Maria procura sobreviver à solidão de um cárcere autoimposto. Às recordações da infância sucedem-se a evocação dos tempos do exílio e do despertar para a luta nacionalista. Carregamentos esporádicos de víveres, cartas, e um pequeno rádio trazem notícias do exterior. 

Sobre Um Pássaro é mais do que a sua Jaula

Adolfo Maria foi testemunha e interveniente nos grandes acontecimentos na história recente de Angola, da luta armada à independência. Em 1976, cinco meses após a independência, em consequência de cisões dentro da estrutura do MPLA, foi perseguido pelas forças do regime tendo sido obrigado a esconder-se numa casa em Luanda em situação de solidão absoluta durante quase três anos. Tinha sido traído pelos seus antigos companheiros. Esse período, que recorda como um dos mais duros da sua vida, permitiu-lhe uma reflexão profunda sobre o cárcere, sobre a sua circunstância pessoal, sobre a solidão, e sobre a luta política. 

Lembro-me de lhe ter perguntado como era possível não ter sentimentos de vingança para com os companheiros de luta que tinham permitido a situação de reclusão a que foi forçado. Disse-me, enquanto desenhava com o indicador no tampo da mesa “Há dois caminhos distintos, um é a minha vida pessoal, o outro é a vida do país — um e outro não devem confundir-se.” As suas palavras recordaram-me A Consolação da Filosofia, de Boécio e a forma como Boécio remetendo para a filosofia antiga procurou dar sentido a sua própria experiência de prisão. Boécio formula uma pergunta que nos é cara a todos “Como podemos chegar à ‘felicidade’ se tudo no universo é governado pela impermanência?”

A ‘felicidade’ a que Boécio se refere é a felicidade no sentido dos tratados da ética (a eudaimonia grega): ‘felicidade’ enquanto realização máxima das capacidades humanas, ou ‘florescimento’. Também Adolfo Maria se perguntou, se a sua vida continuava a ter sentido.

Outro aspecto da história de Adolfo Maria que me impressionou foi o relato das estratégias que encontrou para manter a sanidade mental quando confrontado com a solidão absoluta — sem a presença humana, sem horas, sem compromissos. Contou-me como estabeleceu um calendário de atividades para o dia recorrendo aos livros que ia encontrando no seu refúgio e à sua memória: ioga, seguida de estudo e da redação das biografias dos companheiros de luta, para memória futura. 

Um Pássaro é mais do que a sua Jaula é uma dramatização livre do período de reclusão forçada de Adolfo Maria. 

Sobre Adolfo Maria

A actividade política de Adolfo Maria e a sua dedicação à causa da libertação de Angola iniciam-se ainda nos anos 50, com o seu trabalho na revista Cultura, editada pela Sociedade Cultural Angolana e no jornal ABC — Diário de Angola. Remonta também a esse período uma primeira experiência de cárcere, dessa vez às mãos da PIDE, por involvimento em actividades nacionalistas. 

Em Argel, no início dos anos 60 Adolfo Maria foi um dos fundadores do Centro de Estudos Angolanos; aí trabalhou com Maria do Carmo Reis, Pepetela, e outros, na documentação de apoio ao MPLA. Em Brazzaville, no Congo, já no final da década de sessenta, Adolfo Maria foi responsável pelas emissões da emissora radiofónica do MPLA, o Angola Combatente. 

No início dos anos setenta formou com Gentil Viana, Mário Pinto de Andrade e outros um movimento contestatário dentro do MPLA — a Revolta Activa (RA). Foram as posições tomadas pela Revolta Activa que vieram a estar na origem da perseguição e reclusão forçada de Adolfo Maria. 

Já em Portugal, depois da sua expulsão de Angola em 1979, Adolfo Maria fez parte de um grupo de reflexão apostado em procurar caminhos para o fim da Guerra civil em Angola. 

Vive actualmente em Lisboa. Tem uma vasta obra publicada e participa regularmente em painéis de discussão política e social africana. É um dos intervenientes do programa Debate Africano, na RDP África."

Requisitos de produção

Tipologia: monólogo 

Elenco: 1 actor entre os 35 e os 50 anos 

Duração: 1 hora, aprox.

Sala: idealmente num espaço intimista

Cenário: minimalista  e constituído por objectos existentes no espólio da maioria das companhias.

Luzes: desenho de luzes disponível a pedido

Som: exige uma saída de som gravado, em palco

Ensaios: reposições com o actor Paulo Pinto: 2 semanas de ensaio + 2 ensaios gerais

Poster de Um Pássaro é mais do que a sua
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